
Aprumou o corpo um pouco curvado pelo cansaço, ajeitou os cabelos num gesto esquecido, molhou os lábios com a saliva marejada pelo choro engolido... engole o choro... engole o choro... ouvira e engolira mais do que devia, engolira calada o grito, no susto a palavra maldita, arranhara a garganta de vontades e arfara no ar abafado que lhe batia mares de ressacas, movimento... e o coração apertado, uma ilha de sentimentos imprensados entre a fome e a sede, num peito congestionado pelo vício do desejo... desejava e era tão bom desejar, era como chorar olhando pro sol que latejava manhãs de verão no corpo sem marcas, sem manchas, liso de adornos, pronto... era como esperar o cabelo crescer e correr entre os dedos, os fios nas costas, cócegas no vento, desejar era o vento que alfinetava na pele os grãos da areia, era como correr e correr até convergir ao ponto que flutuava entre o interno da sua pálpebra e o externo da sua retina onde tudo refletia intenso até que sumisse... e sumir era como esquecer.
Aprumou o corpo num gesto esquecido, buscou na memória um sorriso e moveu o ar com a brisa do seu cata-vento...
imagem: desenho de Cristina Nunes
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário